terça-feira, 7 de agosto de 2007

Maria Isabel de Assis, uma mulher negra, nascida na Vila Brasilândia


Maria Isabel de Assis, uma mulher
negra, nascida na Vila Brasilândia

Umas das gratas revelações do evento Brasilândia Celebra Zumbi, dentro do projeto Virada Cultual, ocorrido dia 20/11, foi a presença forte e a fala conclusiva de Maria Isabel de Assis, ou simplesmente Mabel, que se apresentou ao público como “uma mulher negra, nascida e criada na Vila Brasilândia”।


Mabel é hoje assistente social e mestre em Ciências Sociais, formada pela PUC- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com título da Dissertação de Mestrado com o tema “Mulheres Negras: Violência e Resistência no Distrito da Vila Brasilândia”, de 2005। Participou como conselheira no Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, foi coordenadora adjunta da Fala Preta! Organização de Mulheres Negras de SP, monitora no Projeto Educando São Paulo Pela Diferença Para Igualdade – UFSCar; assistente social no Projeto Quixote da Unifesp, ligado ao Departamento de Psiquiatria da EPM- Escola Paulista de Medicina,atendemos crianças, adolescentes e famílias em situação de risco social.

CONCENTRAÇÃO
DE NEGROS

No evento, ela fez breve explanação sobre a sua dissertação de mestrado para um público perplexo, pouco acostumado a ouvir esclarecimentos e dados sobre a sua própria realidade. Falou sobre a Vila Brasilândia, lugar onde desenvolveu sua pesquisa e que ficou estigmatizada por diversos veículos de comunicação como um lugar de violência extremada – “este estigma acarreta aos seus moradores(as) diversas discriminações como o preterimento na disputa por trabalho”, disse.
- “A Vila Brasilândia está entre os distritos com maior concentração de negros(as), que segundo o IBGE representa 39,7% da população da cidade de São Paulo. Contudo, esta representação, em algumas localidades deste Distrito atinge 60% do total de moradores. Essa significativa representação resulta do processo de migração pelo encarecimento do solo e possibilidade de aquisição da casa própria. Trata-se do processo de expulsão dos segmentos com menor poder aquisitivo das áreas consolidadas, pelo fato da oferta de serviços não ocorrer na mesma proporção que o crescimento acelerado e desordenado, bem como pela presença incipiente do Estado na oferta de serviços, e ausência de infra-estrutura mínima de forma a satisfazer as necessidades básicas da população”.
Mabel esclareceu ainda que, “estes aspectos somados a outros como desemprego, discriminação racial, violência policial e a outros fatores exacerbam o sentimento de medo e abandono coloca a Vila Brasilândia entre os distritos onde é registrado os piores Índices de Desenvolvimento Humano de São Paulo.
A pesquisa da mestra Mabel focalizou o processo de acentuação da violência no cotidiano das mulheres negras residentes em Brasilândia. - “Buscamos recuperar a história do local, do ponto de vista das mulheres negras ali residentes, cuja chefia da família está relacionada ao homicídio ou latrocínio de seus companheiros”.
A pesquisa revelou que as mulheres locais foram absorvidas por um cotidiano de luta pela sobrevivência, sua e de sua família, que dificultou a percepção desse dia-a-dia atribulado como fator que contribui – em parte – para restrição das suas relações de vizinhança, familiares e afetivas. Apontou também que apesar das periferias serem apontadas como lócus privilegiado da violência esta não são singulares aos segmentos que a ocupam. Evidenciou que a dinâmica da sociedade moderna além de destituir da população os elementos agregadores das relações, elabora outros que contribuem para o estabelecimento de uma distância entre os grupos que nela habitam.

Dados do Distrito da Vila Brasilândia - Possui:
21 quilômetros quadrados;
Total da população, 247.328;
População negra, 39,7%;
Taxa de emprego por habitante, 0,16%
Renda média familiar em salários mínimos, 7,38
Chefes de família sem instrução, 10, 04%
Chefes de família com 15 anos ou mais de escolaridade, 1,98%.
Número de homicídios por cada 100 mil habitantes 92, 31


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